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O DIA EM QUE A CIÊNCIA TENTOU ENTERRAR O CROSSFIT… E PERDEU!

  • Foto do escritor: Fábrica De Treino
    Fábrica De Treino
  • 14 de jul.
  • 4 min de leitura

A GUERRA SUJA CONTRA O CROSSFIT: MENTIRAS, MILHÕES E TRIBUNAIS!


✅ O CASO — O ESTUDO DE 2013

Em 2013, foi publicado no Journal of Strength and Conditioning Research (JSCR) um artigo intitulado “CrossFit-based High-Intensity Power Training Improves Maximal Aerobic Fitness and Body Composition.” (https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/23439334/) Os autores eram Michael M. Smith, Allan J. Sommer, Brooke E. Starkoff e Steven T. Devor, vinculados à Ohio State University.

Os autores: Steven T. Devor, Allan J. Sommer, Michael M. Smith e Brooke E. Starkoff.


O estudo relatava dados de lesão alarmantes: 16 participantes começaram o programa, mas 11 concluíram, e a publicação dizia que 2 pessoas (16%) desistiram por “overuse or injury.” O número frequentemente reproduzido pela mídia (e amplificado nas redes sociais) foi o de 73% de lesões entre praticantes, embora essa estatística tenha sido distorcida ou exagerada em muitas manchetes.


A questão crítica: posteriormente, descobriu-se que o box de CrossFit onde o estudo foi realizado jamais informou que os indivíduos haviam abandonado o programa devido a lesões. O dono da academia negou ter fornecido essa informação, e os autores admitiram que a informação era baseada em suposições, não em dados confirmados.


Em 2017, documentos judiciais vieram à tona revelando que a NSCA (National Strength and Conditioning Association) (https://journals.lww.com/nsca-jscr/fulltext/2017/07000/crossfit_based_high_intensity_power_training.37.aspx) estava envolvida num possível conflito de interesse, temendo perder espaço comercial para o modelo de negócios do CrossFit, Inc. O caso foi parar na justiça americana, e em 2019 a NSCA foi condenada a pagar US$ 4 milhões ao CrossFit por danos, após a justiça considerar que houve manipulação de dados e má-fé, configurando difamação comercial.




✅ NÚMEROS REAIS

O artigo de Tibana e colegas (2017) revisa as evidências científicas sobre o CrossFit® e desmonta a ideia de que seja uma prática extremamente lesiva. Segundo os autores, as taxas de lesão no CrossFit® variam entre 2 e 3,1 por mil horas de treino, números comparáveis ou até inferiores a esportes como futebol, rugby ou modalidades de força como Strongman. Além disso, a prática até a exaustão — frequentemente apontada como causa de lesões — não é exclusiva do CrossFit® e não há estudos que comprovem aumento significativo de lesões por fadiga na modalidade.


Apesar de ainda haver poucos estudos sobre adaptações crônicas, já existem evidências de que o CrossFit® melhora o VO₂máx, reduz gordura corporal e aumenta massa magra, mostrando benefícios reais para saúde e performance. A conclusão é clara: praticado sob orientação adequada, o CrossFit® não apresenta risco de lesão maior que outros esportes e pode ser uma estratégia eficaz para condicionamento físico, inclusive para iniciantes, desde que respeitadas as individualidades e limites de cada pessoa.

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✅ O IMPACTO NO MERCADO DO CROSSFIT

1. Dano à reputação

✔ O estudo virou manchete em diversos veículos de mídia (CNN, Men’s Health, revistas de fitness). Mesmo veículos científicos passaram a usar o dado de 73% de lesões para criticar o CrossFit, gerando uma reputação negativa duradoura.


✔ Médicos, fisioterapeutas e educadores físicos passaram a ver o CrossFit com desconfiança, citando o estudo como “prova” de que o método seria mais perigoso que outros esportes. Isso afetou recomendações profissionais e afastou potenciais alunos.


✔ Até hoje, quando se debate CrossFit em rodas de conversa, há quem ainda mencione a “alta taxa de lesão” — mesmo após o estudo ter sido retratado. A desinformação ficou enraizada.

2. Prejuízos comerciais imediatos

✔ Boxes perderam alunos. Em regiões onde a mídia teve mais impacto, boxes relatam quedas de matrícula após 2013, especialmente de iniciantes que tinham medo de lesão.


✔ Seguro mais caro. Muitas seguradoras passaram a classificar boxes de CrossFit como negócios de alto risco, aumentando prêmios de seguros ou dificultando coberturas.


✔ Concorrentes usaram o estudo como argumento de vendas. Academias tradicionais e métodos concorrentes (como treinamento funcional sem marca) passaram a usar a suposta alta taxa de lesões como argumento de diferenciação para capturar alunos preocupados com segurança.


3. Fortalecimento da identidade CrossFit Por outro lado, o escândalo teve um efeito paradoxalmente positivo em alguns aspectos:

✔ União da comunidade. CrossFit construiu uma narrativa de resistência contra grandes instituições (como a NSCA), reforçando a identidade da marca como “outsider” e revolucionária. A comunidade se uniu em defesa do método, criando um senso de pertencimento ainda mais forte.


✔ Marketing poderoso. CrossFit passou a usar os dados reais sobre lesões (≈ 3 lesões a cada 1.000 horas de treino) como peça central de sua comunicação, reposicionando-se como seguro e baseado em evidências.


✔ Transparência e profissionalização. Boxes passaram a se preocupar ainda mais com padrões de qualidade, certificação de coaches e segurança. Isso levou a um aumento geral na qualidade técnica do ensino.


4. Consequências legais e financeiras

✔ O caso custou milhões à NSCA, tanto em indenização quanto em perda de credibilidade científica. O JSCR precisou publicar errata e retratações. A imagem da NSCA, até então tida como autoridade máxima em força e condicionamento, ficou manchada em parte do mercado fitness.


✔ CrossFit ganhou força jurídica e provou sua disposição em defender a marca. Esse exemplo serviu de alerta no mercado fitness sobre o risco de difamação comercial, criando mais cautela em como entidades e veículos comunicam dados sobre métodos concorrentes.


✅ O MERCADO APÓS O ESCÂNDALO

✔ CrossFit seguiu crescendo, mas teve de investir pesado em gestão de reputação.

✔ Houve migração de praticantes para treinos “functional” sem a marca CrossFit, impulsionada em parte pelo medo gerado pelo escândalo.

✔ A lesão continua sendo o argumento número 1 usado por críticos, embora dados reais mostrem índices semelhantes ou inferiores a esportes como corrida, futebol ou levantamento de peso olímpico.

✔ CrossFit consolidou-se como um movimento cultural, não apenas um programa de exercícios — justamente pela postura combativa adotada no caso.


✅ LIÇÃO PARA O MERCADO

Este episódio se tornou case clássico de como: Estudos científicos podem ser instrumentalizados para fins comerciais; Uma narrativa negativa pode afundar ou fortalecer marcas, dependendo de como reagem; A reputação, mesmo recuperada, nunca volta exatamente ao ponto anterior após um escândalo midiático. Para o CrossFit, o escândalo foi um divisor de águas. O método sobreviveu, fortaleceu-se como marca global e se tornou ainda mais profissionalizado — mas carrega até hoje a sombra de precisar sempre “se defender” da acusação de ser perigoso. É um exemplo perfeito de como, no mercado fitness, a guerra não é só por alunos — é também por narrativas.

 
 
 

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